J.K. Rowling não quer saber de feitiços

26 agosto 2017


Livro: Morte Súbita
Autor: J.K. Rowling
Páginas: 501
Editora: Nova Fronteira
Edição: 2012
Acabamento: Brochura
Nota: 5/5
ISNB: 9788520932537

Após cativar milhões de adultos, adolescentes e crianças com os sete livros do universo Harry Potter, J.K. Rowling parecia fada a se conformar com sua fortuna e fama, simplesmente vivendo do glamour dos resultados financeiros e midiáticos - principalmente o sucesso dos oito filmes. Mas eis que, para surpresa de todos, não só a escritora não parou de escrever como mergulhou em um romance adulto e repleto de nuances sociais.


Morte Súbita é o fruto muito bem amarrado de uma autora que encontrou sua maturidade e continua a inovar no modo de escrever, pois a complexidade desta novela não lembra em nada o jeito carismático e cativante dos livros sobre o mundo bruxo, mas sim a imersão em uma trama adulta sobre a comunidade de Pagford e tudo o que assola as pacatas vidas locais; um ambicioso plano de transformar o centro de assistência social local em um suntuoso shopping center mexe com a mente dos mais corretos, apesar de serem poucos.


Confess que me surpreendi de diversas maneiras, pois além de me proporcionar uma experiência literária diferente das anteriores - e sou fã declarado de Harry Potter  J.K. Rowling também me mostrou que sua criatividade não tem limites, me fazendo torcer por uns e me enojar por outros cidadãos de Pagford. Os abusos que acompanhamos ao longo do livro são de fato, repugnantes.


Regado a crise existenciais, ganância em excesso e a rotineira confusão de todo adolescente, Morte Súbita consegue nos proporcionar empatia desde o início, apesar de não ser uma daquelas obras empolgantes que queremos devorar em um único dia. Ao contrário, é preciso certo tempo para digerir o que Rowling quer nos dizer através do uso de drogas, sexo por interesse e politicagem, pois neste mundo no qual vivemos e especialmente quando o livro foi lançado, em 2012, a pequena vila pode ser apenas um reflexo da sociedade na qual estamos inseridos.


Quando um dos únicos indivíduos ainda decente morre repentinamente, o distrito de Pagord perde equilíbrio, pois o responsável por ainda acreditar na bondade da convivência em sociedade faz com que certas crenças sejam destruídas e a liberdade para a ganância ganhe forma. O problema é que, ao abrir a eleição para o conselho local para substituí-lo, os novos candidatos têm sua fama dilacerada pelo fantasma de Barry, o bom sujeito, uma alegoria a alguém que está enviando, em nome do falecido, mensagens pejorativas, cujo propósito é tornar as redes sociais um excelente reduto para disseminar a má conduta local. É aí que o jogo começa com tudo!


Levei um bom tempo para digerir Morte Súbita, pois seu gosto é constantemente amargo, como a realidade, a qual eu não achava ser possível ser criada pela mesma pessoa que me tirou do "mundo cruel da adolescência" com suas aulas de poções, lições de moral metaforizadas em feitiços e bons personagens. Aqui Rowling me mostra coo, de fato, a crueldade pode estar na mais banal das intenções e, sobretudo, como arrastar-me pela dolorosa constatação do que li pode ser mais prudente do que muitos feitiços deixados para trás.


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